Primeiramente quero agradecer o convite do Sr. Régis Ricco para eu ser comentarista de sua plataforma, fiquei extremamente feliz e muito lisonjeado de ser considerado para substituir alguém tão inteligente e renomado como o Sr. Joseph Reiner que agora parte para uma nova empreitada.
Para me apresentar a vocês:
Meu nome é Gustavo Matias, sou de Franca-SP, minha trajetória no café começou em 2010 e, desde então percorri vários elos da cadeia, da fazenda a exportação, até a missão de ensinar e formar novos profissionais para o setor.
Atuei em logística, certificações, rastreabilidade, controle de qualidade e gestão de risco, exportação; construí uma carreira sólida como trader internacional, viajando e negociando com empresas em quase 30 países, participando de feiras e eventos nas Américas, Europa, Ásia e Oceania.
Essa vivência me deu uma visão global e integrada do setor: da produção ao consumo, da gestão de risco às operações estruturadas, do controle de qualidade ao mercado financeiro.
Desenvolvi uma rede de contatos que conecta produtores, exportadores, importadores e torrefadores em diferentes partes do mundo.
Atuo como professor, consultor e mentor, no Brasil e no exterior, com foco em precificação, exportação e gestão de risco no café em operações estruturadas.
Atualmente administro a MCT | Matias Coffee Trading em Franca-SP, exportadora, corretora, cursos e consultoria.
A percepção de risco na Bolsa
Nesta semana o principal assunto foram as tarifas que os Estados Unidos haviam imposto ao Brasil, que eram 10% de tarifa recíproca mais 40% de tarifa adicional (tarifaço), totalizando 50% de tributação lá no destino que os importadores deveriam pagar caso comprassem café brasileiro.
A taxa era tão alta que acabou comprometendo as importações de café brasileiro pelas empresas americanas em um momento que o preço do café estava em níveis recordes.
Agora essas tarifas foram integralmente removidas, o que zera o imposto de importação para o nosso café brasileiro.
Para todos os meus alunos, sempre digo que o preço do café na Bolsa é construído por percepção. No mercado de café, o preço na Bolsa de Nova York muitas vezes é mais reflexo de percepção do que de realidade física, não é somente sobre oferta e demanda global.
É sobre como Fundos, tradings, torrefadores e algoritmos interpretam riscos, notícias e eventos. Uma geada no fim de semana pode fazer o mercado explodir na segunda-feira, não porque a oferta ou a demanda tenham mudado de um dia para o outro, mas porque a percepção coletiva do mercado mudou.
O preço reage ao “mercado de papel”, onde decisões são tomadas, movidas por gestão de risco e especulação. Os mais eficientes não são os que tentam adivinhar a direção, mas os que se preparam e planejam para qualquer cenário, entendendo que o jogo é sobre como o mercado como um todo enxerga o mundo, e não sobre opiniões individuais.
A Bolsa não reage apenas ao que já aconteceu, mas ao que o mercado acredita que possa acontecer. Por isso, a leitura das posições, dos spreads e da curva é essencial. A curva, nesse contexto, representa como os preços mudam de um vencimento para o outro, mostrando a relação entre esses diferenciais ao longo do tempo.
Com as tarifas que entraram em vigor dia 06/Agosto/2025, NY num fechamento anterior estava a 281,65 e em um mês apenas subiu para 373,65, +9.200 pontos de alta, +32,66% em somente 30 dias, 9.200 pontos significa aproximadamente 121,70 USD por saca de 60kg.
Foi uma corrida para buscar proteção à percepção do risco, a posição long (comprados) para a categoria indústria/negociantes aumentou de 30.939 para 42.598 contratos, +11.659 (aprox. 3,3 milhões de sacas) no mesmo período de um mês. Quando a indústria aumenta posições compradas, significa que está se protegendo do risco de alta, não que o café físico sumiu.
Veja que o problema não aconteceu imediatamente, não faltou café da noite para o dia, mas a percepção de risco moveu o preço da Bolsa em volume e valor muito consideravelmente.
O mesmo acontece inversamente, com a remoção das tarifas o mercado percebe um alívio a percepção de risco e desmonta posições feitas para proteger contra o risco.
Como diria um grande amigo, o preço sempre cumpre sua função, a essência fundamental na lei da oferta e demanda é o preço encontrar seu ponto de equilíbrio ajustando as curvas de oferta e demanda, qual será o novo preço de equilíbrio para o café?
Lembrem-se de que, sob essa ótica, o mercado se antecipa muito. Ele já vinha precificando há bastante tempo todo esse momento que estamos vivendo no café, mantendo a curva invertida há 536 dias hoje, que é quando o futuro fica mais barato que o presente.
A expectativa para 2026 se apoia na bienalidade natural do arábica no Brasil, nas floradas recentes e em um balanço hídrico mais favorável, embora o desenvolvimento ainda esteja no começo e muita coisa possa mudar.
A esperança é que a curva volte a apresentar carrego, quando o futuro fica mais caro que o presente, pois isso beneficia o produtor e o exportador brasileiro ao permitir travar preços melhores nos vencimentos mais longos e melhora a remuneração ao carregar estoque ao longo do tempo.

Observem o gráfico:
O movimento do preço (linha roxa), volumes dos contratos abertos OI (linha verde), contratos de Dezembro (barra azul), contratos de Março (barra laranja), posição líquida dos Fundos (linha amarela pontilhada) e posição comprada da indústria (linha verde pontilhada).
A migração de contratos também de Dezembro para Março, visualmente perceptível nas barras.
Fechamos a semana com contrato de Março (KCH6) a 369,45 c/lb, próximos suportes 365/353/344 e resistências acima em 372/384/397.
Não estávamos tendo os relatórios das posições dos Fundos desde o dia 23/set, e agora voltaram a publicar, isso faz diferença para leitura de fluxo. Mas irão publicar retroativo e gradativamente e não de uma vez só todo o período, então estamos no escuro sobre a posição dos Fundos.
Esperamos que com a queda das tarifas voltemos a ter o fluxo normal de vendas para EUA, em 2024 até Outubro Brasil já tinha enviado 6,5 milhões de sacas ao EUA, já em 2025 foram 4,7 milhões, mantendo ainda o EUA em primeiro lugar nas importações de cafés brasileiros.
Os próximos dias devem mostrar se a retirada das tarifas será consolidação ou apenas ajuste técnico.
Produtor é essencial aprender a usar a Bolsa como ferramenta de proteção de preço.
Boa semana,
Gustavo Matias
@matiascoffeetrading
*temos diversos cursos para quem quer entender o mercado de café no nosso Instagram
*Agradecimento a Judith Ganes pela contribuição