O mercado fechou sexta-feira em 404,35 centavos base Março, contra um fechamento sexta-feira retrasada em 377,85 centavos. Sexta-feira retrasada está se tornando uma informação quase que irrelevante.
O contrato de Março de aproxima do primeiro dia de entrega com cerca de 50 mil contratos em aberto e um inverso acima de 7 centavos.
A arbitragem NY & Londres acima de 150 centavos. Mesmo assim, os diferenciais do Vietnam abriram para -200/220 FOB, com produtores vendendo razoáveis volumes após os feriados Tet (e considerando que a safra foi um pouco tardia).
Os estoques certificados de Robusta também tem subido. O Vietnam exportou 3,65% a menos mês a mês em Janeiro, e 35% menos ano a ano.
No caso do Arábica, muitas origens entraram em paridade de entrega contra NY, então poderemos ver um acréscimo dos estoques certificados.
Alguns traders comentaram que a queda da semana passada e retrasada podem ser coberturas e não entregas físicas, como também uma jogada para forçar mais ainda uma alta de mercado e finalmente puxar mais cafés das origens.
Posso aqui comentar que o mercado está sobre comprado, e daqui a duas semanas tentar explicar porque chegamos aos 500 centavos, mas a realidade é que conversando com torradores, não existe falta de café, existe sim um problema estrutural de caixa, e entender competitividade e demanda. Segundo eles, a primeira perna da aceleração entre 250 – 325 cents não foi percebida uma grande erosão de demanda, porém após os 325 cents, a subida foi tão rápida que o real impacto ainda não chegou na gôndola ou nos lattes machiattos… logo logo veremos.
O Brasil exportou novamente um bom volume em Janeiro… e Fevereiro começou bem.
Outras origens também estão exportando dentro de uma normalidade.
Se houvesse um fantástico aumento da demanda, a qual o mercado não tenha se atentado, pode ter certeza… teríamos observado uma maior participação das grandes torrefações nas posições compradas em NY e Londres, especialmente porque o mercado invertido é ótimo para as torrefações fixar preços com zero custo. Isto desde os 200 e tantos centavos…
Agora, nunca subestimemos a capacidade de inteligência e frieza na concepção puramente econômica/financeira dos Fundos. Importante também salientar que, boa parte da administração das posições deles, são administrações passivas, ou seja, são algoritmos que dentro de uma carteira bem diversificada dão ordens de entrada e saída.
Conversando com alguns amigos ligados a Fundos, que não negociam café especificamente, mas entendem o “modus operadi”, a explicação foi a seguinte:
“Os grandes Fundos, até por uma questão de compliance, fundamentam muito bem cada posição tomada, ou cada parametrização de algoritmos. Não tem nada de chute ou “eu acho“… ou meu “dentista falou que os preços vão subir“… não sei se este nível de preços vai ficar no patamar atual, porém podemos muito bem estar entrando em um ciclo de preços médios mais altos que no passado“
O racional da turma comprada pode ser o seguinte:
- Estamos em ciclo de mudanças climáticas, que a cada “X” anos teremos um impacto em produção em alguma origem importante. Mesmo que o Brasil em algum ponto tenha uma super safra, na mediana de 10 anos, temos um problema de acompanhar a demanda.
- não temos mais estoques reguladores.
- Economicamente, o consumidor, principalmente nos EUA, Japã, Oriente Médio, China, ao longo do tempo, criou uma capacidade de compra maior (com crescimento da economia e parte com inflação média).
Qual o break-even novo? Não sabemos, mas com certeza será maior que no passado. Café já era um produto inelástico… pode ter subido um grau… - Daqui a 10-15 anos o mercado vai consumir o equivalente a $200 milhões de sacas… de um jeito ou de outro, de um formato ou de outro. Seja da Fazenda do Sr. Antonio em Boa Esperança, seja do Tang sabor café que vc coloca no micro ondas (altamente consumido pelo meu amigo Rafael), ou de um novo produto desenvolvido por uma start-up Californiana ou Chinesa que imita o sabor/aroma/prazer do verdadeiro café.
Preços altos são um alto incentivo para inovações e retorno econômico. Vão sobrar pouquíssimos produtores de cafés de altíssima qualidade e diferenciados, que serão consumidos por consumidores que pagarão altíssimos preços por cafés “verdadeiros”. O preço do verdadeiro café não caíra… ao contrário!
Macro/Dólar: impossível prever amanhã, quanto mais o médio prazo. Ninguém sabe o que vai sair dos governos de lá e de cá no dia a dia. Apesar dos números de vagas abertas por lá ter vindo um pouco abaixo da expectativa (segundo o próprio governo, os números foram afetados pelas tempestades de neve no norte/nordeste e pelos incêndios na Califórnia) e a inflação estar sob controle (por enquanto), todos os efeitos do turbilhão Trump sob a economia ainda são uma incerteza.
Por aqui o fator relevante, foi na semana retrasada a reunião do governo com o setor bancário para criar o crédito consignado direto na folha de pagamento do setor privado.
A coisa só não brotou ainda porque os Bancos não querem um teto de juros o qual o governo insiste (o colateral será o seu Fundo de agarantia). Os Bancos mesmo indicaram que se isto vier a acontecer, vai jorrar cerca de $140 bilhões no mercado. Se vc acha que a picanha tá cara agora… Este tipo de ação deixa bem claro que o compromisso não é com o ajuste fiscal do país, e sim com a eleição de 2026…Nos patamares atuais o Dólar não deve ter grande efeito no café.
Mesmo se o Dólar desvalorizar mais, não significa automaticamente um incentivo maior para a importação lá, pois não sabem o que poderá vir de tarifas, bem como o impacto de 400 centavos na gôndola.
Pelo menos para ir à Feira de café em Dubai a turma parece animada!!
Boa semana a todos!!
Joseph Reiner